24/07/2025 - Notas sobre a profissão de arqueólogo
A arqueologia é uma profissão extremamente exigente, socialmente pouco reconhecida. O esforço físico é elevado para os que se dedicam ao trabalho de campo dos projectos. Os tempos passados longe das áreas de residência e do ambiente familiar podem ser muito prolongados.
Frio e calor agressivos são suportados de forma sistemática. Psicologicamente, são muito os que se ressentem. O abandono da profissão é uma realidade proporcional ao sentimento de falta de um sentido.
O que resta?
Resta o instante em que, ao escavar, se encontra um fragmento de cerâmica, uma estrutura soterrada ou um vestígio humano e se compreende que se está a tocar, literalmente, a história. Resta a emoção do invisível que se torna visível. Resta o saber que, mesmo num mundo que valoriza o imediato e o visível, há quem se dedique a dar voz ao silêncio dos séculos.
Resta também a comunidade — por vezes pequena, mas intensa — de quem partilha a mesma paixão. Resta a esperança de que, com mais reconhecimento e investimento, essa entrega ganhe melhores condições, mais estabilidade e maior valorização social.
E, por fim, resta a convicção de que preservar e interpretar o passado é construir consciência para o futuro. Mesmo quando tudo o resto falha.