Blocos de Rega de Vale do Gaio, Horta Nova 4

Os trabalhos no sítio da Horta Nova 4 (Alvito, Beja), no âmbito da execução dos Blocos de Rega de Vale do Gaio, decorreram entre 18 de Fevereiro e 13 de Março de 2015. Iniciaram-se após a identificação, em acompanhamento de obra, de um conjunto de contextos arqueológicos localizado na C1.1 Alvito Baixo, entre os PK 0+610 a 0+725.

Face aos contextos referidos, programou-se, inicialmente, a realização de um conjunto de sondagens arqueológicas de diagnóstico, posteriormente alargadas para escavação e caracterização dos contextos em área de afectação de obra, numa área total intervencionada de 82,75 m².

As sondagens 1, 2 e 3 foram realizadas sobre três possíveis sepulturas, verificando-se depois que apenas as sondagens 1 e 3 correspondiam a contextos funerários, embora somente na 3 se tenha identificado espólio osteológico humano preservado. A tipologia das sepulturas e o espólio associado aos enterramentos, constituído por um conjunto de artefactos metálicos (lanças em ferro, um cabo de punhal em ferro, uma possível falcata ou uma fíbula em bronze) e uma conta decorada, em pasta vítrea, permitiram um enquadramento na Idade do Ferro.

As sondagens 4 e 5 foram executadas sobre dois prováveis fossos identificados neste sítio arqueológico, localizados a cerca de 50 m das sepulturas referidas. A interpretação da estrutura negativa presente na sondagem 4 esteve sujeita a algumas limitações, fruto da pequena dimensão da área intervencionada e da ausência de materiais arqueológicos. No entanto, considerando a sua curvatura e orientação, considerou-se que o mesmo poderia corresponder ao fosso exterior do recinto de fossos aqui presente, associando-se às realidades intervencionadas na sondagem 5.

A sondagem 5 incidiu sobre o segundo fosso identificado neste sítio arqueológico, correspondendo ao maior segmento visível na área de afectação do projecto em curso. Este segmento, do qual eram visíveis cerca de 25 m, delimitava um provável recinto sub-circular, com pelo menos uma entrada voltada a NO. No seu interior identificaram-se alguns materiais arqueológicos, nomeadamente fragmentos cerâmicos que permitiram um enquadramento cronológico no Neolítico Final.

Este recinto de fossos veio juntar-se ao prolífero conjunto de sítios com estruturas negativas, compostos por fossos e/ou fossas abertas no substrato rochoso, que têm vindo a ser identificados no território alentejano.

Enquadrado neste panorama, o número de recintos de fossos conhecidos quintiplicou em pouco mais de uma década, conhecendo-se atualmente recintos que vão desde o Neolítico Final (como Juromenha 1, Malhada das Mimosas, Águas Frias, Cabeço do Torrão, recintos 6 e 8 dos Perdigões, Recinto 1 do Porto Torrão ou Ponte da Azambuja), passando pelo Calcolítico Pleno (Perdigões 3 e 4; Santa Vitória; Outeiro Alto 2; Xancra, Monte do Olival 1, Salvada) e chegando à segunda metade/finais do 3º milénio (Perdigões 1; Porto Torrão 2; Horta do Albardão 3) (Valera, 2012).

A sondagem 6 foi realizada sobre uma estrutura negativa localizada no interior do espaço delimitado pelo fosso intervencionado na sondagem 5. Trata-se de uma interface negativa de forma sensivelmente ovalada, com um pequeno degrau junto à parede SE, permitindo o acesso a uma câmara mais funda, sub-circular.

Tipologicamente, esta estrutura negativa assemelha-se a alguns hipogeus em degrau que têm vindo a ser identificados noutros sítios arqueológicos do Alentejo, normalmente com cronologias associadas ao Bronze Final. No entanto, a ausência de espólio osteológico permitiu apenas considerar esta como uma hipótese de interpretação, reforçada pela presença de um objecto de adorno.

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