Rua do Boqueirão Duro e Rua D. Luís I, Lisboa

Esta intervenção visou a elaboração de um Plano de Atuação Arqueológica que permitisse aferir do potencial arqueológico e patrimonial da área de implantação do Edifício Sorel, definindo diferentes áreas de sensibilidade arqueológica. Pretendia-se também propor as medidas necessárias à adoção da mais eficaz estratégia de atuação por parte do Cliente, de maneira a permitir a implementação do seu projeto de obra, de forma sustentada e socialmente responsável.

Para o local em análise estava prevista a construção de um edifício com 3 pisos elevados e 1 piso enterrado, para o qual seria necessário proceder à realização de uma escavação com cerca de 4 m de profundidade.

O projeto da Fidelidade, já devidamente aprovado em fase inicial de implementação, implicava a requalificação do edifício localizado na Rua do Boqueirão Duro/Rua D. Luís I. Ainda que a área afeta ao futuro edifício não estivesse integrada numa das áreas de maior sensibilidade arqueológica consideradas no PDM de Lisboa, nem tão pouco se enquadrasse em qualquer área de proteção de imóveis classificados ou em vias de classificação, a DGPC – Direção Geral do Património Cultural condicionou o avanço do projeto à prévia realização de sondagens arqueológicas de diagnóstico.

Face à recolha de dados histórico-arqueológicos disponíveis para a área de trabalho, incluindo os que foram obtidos a partir da realização de sondagens geotécnicas e de inspeção estrutural concretizadas no local e outros recolhidos no âmbito da pesquisa bibliográfica e documental realizada pela ERA, fundamentou-se uma estratégia alternativa de aplicação de medidas de minimização dos impactos previstos sobre bens patrimoniais decorrentes da concretização das obras.

Assim, constatando-se que a área onde se implanta o Edifício Sorel se encontra integrada geograficamente num alinhamento de contextos portuários e industriais, era expectável que fossem detetados diferentes tipos de contextos consoante as profundidades médias.

Até 2,5/3 m de profundidade correspondem contextos de arqueologia industrial (nomeadamente, relacionados com a fábrica Vulcano e Colares e outras unidades industriais) e contextos consentâneos com o Aterro da Boavista (século XIX) ou um aterro clandestino anterior ao da Boavista. Entre 3 e 6m de profundidade, estruturas portuárias/antigos varadouros, eventuais embarcações e estruturas dos séculos XVII/ XVIII (nomeadamente antigas unidades fabris, anteriores à industrialização). A probabilidade do aparecimento de vestígios arqueológicos no decurso da obra seria elevada, pelo menos até 6m de profundidade.

Tendo em consideração os condicionalismos de cariz arqueológico e geológico conhecidos, consideraram-se áreas de risco no que respeita ao planeamento da obra a concretizar e aos inerentes trabalhos arqueológicos a promover no local, numa perspetiva de minimização de impactes decorrentes da implementação do empreendimento do cliente.

Assim, considerando a análise dos dados bibliográficos e documentais, em adição à informação recolhida com a realização dos poços geotécnicos, propôs-se o seguinte: acompanhamento arqueológico permanente de todas as movimentações de terras; dada a certeza de virem a ser identificados contextos relacionados com a antiga siderurgia Vulcano e Colares (atestados pela presença de estruturas em tijolo e níveis muito relevantes de limalhas de ferro), deveria a sua escavação e posterior demolição ser efetuada faseadamente de modo a realizar um registo integral das estruturas pré-existentes; eventual escavação arqueológica de contextos relevantes cujo registo e interpretação não fosse possível de realizar ao nível do acompanhamento arqueológico de obras.

Face ao exposto, e tendo em consideração os possíveis cenários que se colocam ao evoluir dos trabalhos de escavação inerentes à obra, a equipa de arqueologia responsável pelo processo deveria estar preparada para diversificados cenários e garantir uma rápida, eficiente e consistente capacidade de resposta, sempre assente no respeito pelas melhores práticas em vigor na área da arqueologia.

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