Bloco 5 - Moinho de Valadares 1

As escavações arqueológicas realizadas pela equipa da ERA revelaram um importante povoado, com uma intensa ocupação datável da Pré-História Recente. As observações estratigráficas e os conjuntos artefactuais recolhidos documentam vários momentos de vida do sítio. A articulação das fases definidas nas sondagens realizadas e o respectivo registo arqueológico levou à definição geral de três grandes momentos de ocupação.

Num primeiro momento (Fase de Ocupação 1), identificou-se uma estrutura de tendência circular com duas fases de ocupação/utilização e a construção e reconstrução de uma estrutura de contenção/delimitação constituída por um muro de pedra e uma “parede” de ramagens entrelaçadas, assim como dois momentos de derrube desta estrutura. Neste primeira fase observa-se uma significativa representatividade de recipentes cerâmicos do tipo taça carenada e de potes com pegas mamiladas, e a presença vestigial ou pouco relevante de pratos. Na decoração dominam os motivos plásticos. A metalurgia e os metais estão ausentes.

Numa segunda etapa (Fase de Ocupação 2), observou-se a construção, sobre derrubes de estruturas e solos do momento anterior, de uma nova estrutura circular e a edificação de outras estruturas tipo muro, enquanto a área mais elevada da plataforma era ocupada pela primeira vez, com a construção de estruturas em pedra e ramagens entrelaçadas revestidas a argila. Neste segundo momento de vida do povoado, a taça carenada e os recipientes com pega ou mamilos perdem representatividade, sendo superados pelo prato. Nas decorações verifica-se que a decoração plástica à base de cordões quase desaparece, surgindo pela primeira vez a decoração simbólica. Ocorrem, igualmente pela primeira vez, vestígios de metalurgia, embora ténues.

Um terceiro momento (Fase de Ocupação 3), é documentado por vestígios materiais atribuíveis à Idade do Bronze, que ocorrem em camadas de derrubes das estruturas das ocupações anteriores. Esta reocupação tardia do sítio parece ter sido pouco intensa e com ela poderão estar relacionadas algumas estruturas. Os materiais são relativamente escassos e ocorrem misturados com grande quantidade de espólio atribuível aos momentos anteriores, considerados de vida plena do povoado. A presença de vestígios osteológicos humanos poderá sugerir uma reocupação de cariz funerário.

Confirmou-se que a ocupação plena do Moinho de Valadares se integra num momento de transição ou inicial de formação do Calcolítico do Sudoeste, existindo uma reocupação vestigial datada da Idade do Bronze, eventualmente de carácter funerário. Durante a ocupação plena, os materiais arqueológicos e os elementos ósseos de fauna são extremamente abundantes, documentando a prática da caça, da pastorícia e da pesca, parecendo a agricultura uma actividade menos preponderante. A tecelagem e a metalurgia encontra-se também registadas, embora esta última seja pouco expressiva e só ocorra a partir da Fase de Ocupação 2.

Ao povoado poderão estar associados alguns dos motivos identificados nas rochas com gravuras rupestres localizadas no topo da vertente, a cerca de 50m da área escavada (Agualta 7).

Deste modo, o sítio revelou-se como um contexto de grande importância para conhecimento da rede de povoamento dos 4º e 3º milénios AC da margem esquerda do Guadiana do actual território português.

Os limites do sítio, nomeadamente de uma eventual estrutura de delimitação, encontram-se ao nível da cota máxima de enchimento da barragem do Alqueva, podendo ser periodicamente afectados por subidas e descidas do seu nível.

 

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