Rua de Santa Cruz do Castelo, lotes 50/52 e 54/56, Lisboa

Estes labores arqueológicos foram levados a cabo no âmbito da implantação do projecto de alteração/ampliação dos lotes 50/52 e 54/56 sitos na Rua de Santa Cruz do Castelo, em Lisboa. Adjudicados à ERA-Arqueologia pela AGITARIDEIAS energéticas, Lda., decorreram entre os dias 17 de Fevereiro e 01 de Abril de 2014.

As obras a realizar neste projeto implicavam a afetação de áreas de grande potencial arqueológico, já que se trata de uma zona de Intervenção de nível I do PDM – Plano Diretor Municipal de Lisboa, quer na Zona de Protecção do Castelo de S. Jorge e Restos das Cercas de Lisboa, o que determina a preconização de medidas de minimização prévias (para além do acompanhamento arqueológico de todas as movimentações de terras), materializadas na realização de sondagens manuais arqueológicas de diagnóstico.

Os trabalhos possibilitaram a identificação, a uma cota relativamente pouco profunda, de uma estratigrafia complexa e intrincada, o que é consentâneo com contextos urbanos deste tipo (onde ocorre uma ocupação contínua ao longo dos séculos). Isto sugere uma ocupação intensa de um mesmo espaço, sobretudo de âmbito doméstico, mas que neste caso se reportou apenas a níveis de cronologia moderna/contemporânea (embora houvesse indícios indiretos de ocupação mais antiga).

Em virtude dos trabalhos realizados terem apenas decorrido até às cotas de afetação da obra, verificou-se um condicionamento às interpretações relativas à sequência de organização e uso deste espaço ao longo do tempo. Sob este aspeto, destacou-se o facto de todos os muros se prolongarem em profundidade para além da referida cota, inviabilizando leituras específicas relativas ao enquadramento cronológico das edificações, incluindo a interligação estabelecida entre elas numa ótica de dinâmica construtiva dentro deste espaço.

Com efeito, os factos inequivocamente disponíveis remeteram para um ambiente geral de uso do espaço através de construções de cariz doméstico cuja fundação não foi possível definir, quer em termos de cota, quer em termos cronológicos. Apenas se pôde referir, de forma genérica, que o espaço evidenciou várias fases de ocupação que correspondem sobretudo a áreas habitacionais e de vivência quotidiana, bem representadas pelos pavimentos em tijoleira e pisos em argamassa, assim como, pelas estruturas negativas de combustão e pelas estruturas negativas para a colocação de talhas ou o fabrico de sabonetes.

A recolha de artefactos, nomeadamente, faianças, cerâmica comum, dedais e numismas, etc. permitiu balizar estas realidades entre os séculos XVII e XX.

Não obstante e à laia de conclusão, pôde-se afirmar que a abertura de toda a área afeta ao futuro fundo de caixa, para implantação das sapatas e pavimento do novo edifício, permitiu expor em planta todas as estruturas inicialmente registadas no âmbito da fase de diagnóstico, acrescentando informação muito válida para a compreensão da organização daquele espaço.

A presença de contextos de edificações urbanas, com várias utilizações, incluindo reorganizações de espaços, e em que se atestaram diferentes níveis e tipos de pavimentação (tijoleira, traves de madeira, argamassas e terra batida), lareiras e fossos de funcionalidade ainda por esclarecer (alguns poderiam corresponder ao suporte de grandes recipientes – talhas), denunciou uma dinâmica assinalável, na vivência do espaço, com reflexos na complexidade estratigráfica.

Por último, os vestígios de muros, de diferentes tipologias, pareceram remeter para, pelo menos, 3 grandes fases fundamentais de edificação.

 

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