Antiga Casa da Guarda, Forte de São Vicente, Torres Vedras

A ERA levou a cabo a avaliação do potencial arqueológico e patrimonial no Forte de São Vicente, em Torres Vedras, no âmbito da requalificação deste edificado, mais concretamente no edifício habitacional, antiga Casa da Guarda, cuja demolição estava prevista. Os trabalhos decorreram entre o final de Janeiro e o início de Fevereiro de 2010.

Procedeu-se à realização de 4 sondagens arqueológicas de diagnóstico, prévias à execução do projecto, visando não só caracterizar o potencial científico e patrimonial das realidades arqueológicas no local, como também aferir a antiguidade do edifício existente. Identificou-se a presença de 1 calçada, 2 estruturas correspondentes às paredes do edifício e espólio característico do séc. XVIII a XIX, nomeadamente numismas.

Mais concretamente, a sondagem 3 revelou a existência de uma moeda de um vintém, em bronze, da época de D. Luís, datada de 1883, e a sondagem 1 uma de X reis, em cobre, da época de D. João V, datada de 1738; a terceira moeda foi encontrada na sondagem 1, tratando-se de V réis em cobre, da época de D. Luís. Já no exterior do edifício, em contextos afectados por infraestruturas de saneamento, registou-se a presença de uma moeda de X centavos, em bronze, perfurada, datada de 1945.

Os dados não foram conclusivos quanto à cronologia da primeira fase construtiva do edifício. No entanto, como se referiu, o espólio confirmou uma ocupação do espaço entre os séculos XVIII e XIX, a avaliar pelos numismas, possivelmente de acomodação militar, sugestão avaliada face à existência de um botão de farda e loiça de mesa (faiança, cerâmica comum, cerâmica vidrada, vidro).

A avaliar pelos resultados diagnosticados, os trabalhos de remodelação do espaço teriam afectação directa na estrutura original do edifício e na sua envolvência, nomeadamente, na estrutura da canhoneira e lajeado da mesma, devido à proximidade do edifício. Também a estrutura perpendicular ao edifício, já representada na cartografia de 1810 relativa ao Forte de São Vicente, seria afectada.

Assim, como medida de minimização genérica, preconizou-se o acompanhamento arqueológico de todas as movimentações inerentes à requalificação e escavação integral das áreas afectadas, localizadas junto às estruturas mencionadas. Além disso, como medidas de mitigação acrescidas quanto à estrutura original do edifício, sugeriram-se sondagens verticais nas paredes interiores.

 

2011

As acções de acompanhamento arqueológico e de conservação e restauro realizadas no âmbito do projecto de recuperação do Forte de São Vicente, em Torres Vedras, monumento protegido juridicamente como imóvel de interesse público, foram adjudicadas à ERA pela Câmara Municipal de Torres Vedras e decorreram em Junho de 2011.

O acompanhamento arqueológico da antiga Casa da Guarda do Forte permitiu a identificação de 3 fases distintas de utilização/ocupação deste edifício, tendo revelado que as suas paredes mantiveram cerca de 65% dos paramentos originais e que as fases de remodelação da casa não afectaram o seu traçado, consistindo apenas no restauro do aparelho das paredes.

Esta análise parietal não permitiu o enquadramento temporal exacto das duas primeiras fases por falta de indicadores cronológicos. As sondagens de diagnóstico realizadas anteriormente neste espaço revelaram, através do espólio recuperado, uma ocupação entre os séculos XVIII e XIX, não tendo sido recolhidos elementos que associem esta construção ao período das Invasões Francesas (Pires, 2009).

Num documento datado de 1818 e num outro de 1815 (informação cedida pela Câmara Municipal de Torres Vedras) é referida a casa de um moleiro, Sebastião Isidoro, morador nos arrabaldes da vila de Torres Vedras, cuja casa teria servido de armazém de ferramentas do reduto nº 22 no ano de 1810, o que sugere que este edifício seria anterior à construção do Forte (Pinto, 2010).

Do ponto de vista dos trabalhos de conservação e restauro, os objectivos foram concretizados. Com esta acção e a partir da regularização da estrutura, conferiu-se à mesma uma maior estabilidade físico-química, efectuada através de limpezas, intervenções estruturais e acabamentos finais.

No entanto, salientou-se a importância de esta edificação ser alvo de uma observação regular. Uma vez que a ruína do edifício ficou estabilizada, a evolução do seu estado de conservação poderia ser avaliada a partir de então, medindo e contabilizando alterações na situação de referência criada.

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