Quarteirão dos Lagares, Mouraria, Lisboa

Os trabalhos arqueológicos realizados, em 2010, no Quarteirão dos Lagares, freguesia do Socorro, em Lisboa, consistiram na realização de 9 sondagens de diagnóstico, numa área total de 50m2, e 3 sondagens parietais. O objectivo foi a caracterização funcional e cronológica deste espaço, tendo também por base os dados resultantes de trabalhos anteriores, nos quais se identificaram vestígios de um jardim do século XVI, que teria sido construído sobre contextos relacionados com a produção oleira.

Os dados obtidos suportaram a interpretação avançada pelos trabalhos anteriores, essencialmente no tocante aos contextos referentes à produção oleira, não se tendo, todavia, registado nenhum elemento relacionado com o jardim do século XVI. A maioria dos depósitos escavados caracterizou-se pela presença frequente de cerâmica, sobretudo comum, existindo na sondagem 3 indícios claros de produção oleira, como sejam fragmentos de peças com defeitos no vidrado e trempes.

                                                        Cerâmica.

No entanto, à semelhança do que se verificou em trabalhos anteriores, não se identificou qualquer estrutura que pudesse ser interpretada como forno. Os indícios desta actividade neste espaço são por isso indirectos, permitindo apenas colocar uma hipótese de trabalho que carece de confirmação.

Tendo em conta as realidades diagnosticadas, considerou-se que qualquer afectação do subsolo decorrente da obra deveria implicar a escavação manual prévia dessas realidades. Os contextos arqueológicos preservados foram registados praticamente à superfície, sendo que qualquer um dos depósitos escavados apresentou uma elevada frequência de materiais arqueológicos, representando um manancial de informação relevante para a caracterização deste espaço e da sua evolução.

 

ESCAVAÇÃO ARQUEOLÓGICA

Na sequência da anterior campanha de sondagens de diagnóstico (2010), foram estipuladas medidas de minimização a implementar: áreas que seriam objecto de escavação arqueológica e outras que apenas careciam de acompanhamento arqueológico. Assim, esta intervenção, efectuada em 2013, visou a minimização dos impactes da empreitada sobre os vestígios arqueológicos existentes, salvaguardando-os pelo registo, sua caracterização funcional e cronológica.

Os labores realizados permitiram identificar contextos arqueológicos preservados, de época moderna, na sua maioria interpretados como depósitos de aterro decorrentes de momentos de destruição/abandono, para além das áreas de lixeira também aqui identificadas. Relativamente à actividade oleira, foi registado em planta um forno que nos permitiu confirmar a possibilidade anteriormente mencionada (2010).

                                                                       Estrutura.

Os depósitos escavados nas diferentes salas apresentavam uma uniformidade em termos de componente artefactual. A análise preliminar dos materiais recolhidos permitiu datar a formação destes contextos de época moderna, com especial incidência nos séculos XVII/XVIII. Note-se que esta empreitada de reabilitação não atingiu cotas muito profundas, dado que no interior do edifício, na maioria dos casos, apenas se procedeu à remoção dos pavimentos e respectiva preparação.

No que respeita às estruturas identificadas, a sua interpretação careceu de dados adicionais que permitissem determinar com objectividade a funcionalidade dos espaços que definiam, podendo apenas em alguns casos propor-se uma cronologia para a sua construção/utilização. No entanto, julgámos ser seguro afirmar que na área do novo edifício (zona do jardim) as estruturas identificadas pertenceriam a um antigo edifício aqui existente e profundamente afectado pelo Terramoto de 1755.

Relativamente à temática da produção oleira, a componente artefactual recolhida, nomeadamente trempes e fragmentos com defeitos no vidrado, sustentou a interpretação de esta área se relacionar com despejos resultantes da produção de cerâmica. Estes contextos iam ao encontro da interpretação avançada em trabalhos anteriores (2007 e 2010), relacionando esta zona da cidade com a produção de cerâmica em época baixo-medieval/moderna.

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