Blocos de Rega de Vale do Gaio e Adutor de Vale do Gaio, Horta do Pinheiro 5

Os trabalhos arqueológicos realizados no sítio da Horta do Pinheiro 5, no âmbito da Minimização de Impactes sobre o Património Cultural resultantes da execução dos Blocos de Rega de Vale do Gaio (Fase de obra) e do Adutor de Vale do Gaio (troço 4), decorreram em duas fases entre os dias 26 de Janeiro e 9 de Junho de 2015.

Numa primeira fase, no âmbito dos Blocos de Rega de Vale do Gaio, foram realizadas 4 sondagens para caracterização de três possíveis fossas e uma sepultura, identificados no âmbito dos trabalhos de acompanhamento. Numa segunda fase, no contexto do Adutor de Vale do Gaio, foram realizadas mais 25 sondagens para caracterização de um conjunto de estruturas negativas tipo fossa e de uma área de necrópole com diversas sepulturas.

As intervenções permitiram identificar um conjunto de estruturas negativas tipo fossa, uma delas utilizada como espaço funerário, e uma área de necrópole, com diversos enterramentos.

                                                        Enterramento.

Assim, nas sondagens 1, 2 e 3, identificaram-se três interfaces negativas circulares, de pequena dimensão, sem materiais arqueológicos. Embora a sua tipologia nos indicasse um carácter antrópico, não foi possível caracterizá-las como contextos arqueológicos. Nas sondagens 8, 9, 11, 12 e 29, identificaram-se estruturas negativas tipo fossa, de maior dimensão, destancando-se a presença de perfis troncocónicos invertidos. Apesar do seu carácter arqueológico, a ausência de materiais ou outros contextos arqueológicos preservados associados às mesmas, não permitiu um enquadramento cronológico ou funcional destas interfaces negativas.

Na sondagem 5, identificou-se mais uma estrutura negativa tipo fossa, de perfil em U, utilizada como espaço funerário. Continha um esqueleto adulto completo depositado em decúbito lateral direito, em posição fetal. Com a cabeça orientada para Sudoeste e os pés para Nordeste, este indivíduo tinha o crânio sobre o lado direito e os membros superiores e inferiores híper-flectidos. O seu espólio votivo, uma pequena taça em cerâmica, encontrava-se encaixado no seu cotovelo esquerdo. A tipologia do espólio arqueológico, a arquitectura da estrutura negativa e os gestos funerários permitiram inferir como cronologia possível a Idade do Bronze. 

As restantes 20 sondagens realizadas no sítio da Horta do Pinheiro 5, permitiram identificar uma nova área de necrópole constituída por 21 sepulturas escavadas no substrato rochoso, das quais se recolheram 19 esqueletos em diferentes estados de preservação, pertencentes quer a indivíduos adultos, quer a indivíduos imaturos. Das 21 sepulturas identificadas, maioritariamente apresentando cabeceiras orientadas para Sudoeste e pés para Nordeste, 19 continham esqueletos em contexto primário de inumação. Estes encontravam-se invariavelmente depositados em decúbito lateral direito, com o crânio maioritariamente virado para a direita (para Este).

Nenhum dos 19 esqueletos exumados deste núcleo funerário da Horta do Pinheiro 5 apresentava espólio votivo associado. As características de inumação observadas nestas estruturas funerárias, a sua arquitectura e os rituais funerários, indicaram gestos funerários islâmicos.

A identificação desta nova área de necrópole traz nova luz sobre a ocupação humana deste território durante a ocupação islâmica, corroborando a presença de uma comunidade muçulmana neste local. Apesar dos poucos dados conhecidos para este período, esta ocupação islâmica terá sido de alguma importância, considerando por exemplo uma posição geográfica estratégica do Torrão entre Alcácer do Sal, Évora e Beja, facto que lhe deverá ter concedido um papel marcante principalmente durante os séculos XII/XIII, graças à localização numa zona de fronteira entre muçulmanos e cristãos (Carvalho, 2009:6-10).

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