Necrópole da Igreja Matriz de Ílhavo

Realizados em Maio e Junho de 2012, na área adjacente à Igreja Matriz de Ílhavo, na sequência da descoberta de restos osteológicos detectados em contextos preservados, estes trabalhos arqueológicos decorreram no âmbito da abertura de uma vala para saneamento pela Câmara Municipal de Ílhavo na Avenida Manuel da Maia.

Após visita ao local pelo IGESPAR foi solicitada a caracterização destas realidades com vista a minimizar os impactes decorrentes da execução da empreitada. Neste sentido, foram implementadas as medidas preconizadas pela tutela, nomeadamente a escavação arqueológica com apoio de uma equipa de antropologia em permanência de toda a área afectada pela abertura da vala onde foram identificados os restos osteológicos.

A intervenção realizada na Avenida Manuel da Maia, arruamento paralelo à Igreja Matriz de Ílhavo que constituía parte do adro do templo até pelo menos meados do século XIX, pôs em evidência 12 sepulturas (com 13 inumações) em covachos simples sem indícios de caixão. Registaram-se também 5 ossários relacionados com o uso deste espaço como necrópole até 1839, quando foi inaugurado o primeiro cemitério público da então vila, na sequência do decreto de 21 de Setembro de 1834 que proibiu o secular costume de enterrar os mortos dentro das igrejas e adros.

                                                              Sepultura.

Os vestígios postos em evidência apontaram para uma diacronia balizada entre o século XVIII até às primeiras décadas do século XIX. A sobreposição de enterramentos indiciou o uso constante de um espaço que seria bastante atrofiado e poderia já não ter capacidade para dar resposta aos picos de mortandade que se registaram pelo Reino nos primeiros anos do século XIX.

O material recolhido durante a intervenção é constituído maioritariamente por fragmentos de cerâmica de uso doméstico de cronologia moderna/contemporânea, relacionados com os aterros e desaterros feitos nesta área ao longo dos tempos. Os objectos de adorno relacionados com as inumações (pendente em forma de figa, alfinetes, botões e fivelas) são percentualmente pouco significativos e semelhantes a outros objectos recolhidos em necrópoles de cronologia coeva e não constituíram, per se, um indicador cronológico seguro que nos permitisse enquadrar os enterramentos num quadro temporal mais circunscrito.

A sondagem realizada no decurso dos trabalhos arqueológicos constituiu, assim, uma ínfima amostragem de uma realidade que se desenvolveu em área e em profundidade, com sobreposições de enterramentos e ossários, ao longo de um lato período de tempo, na área contígua à Igreja Matriz de Ílhavo, que corresponderia ao antigo adro e é hoje ocupado pela Avenida Manuel da Maia, Rua Serpa Pinto, Travessa dos Bombeiros e Quartel dos Bombeiros.

Qualquer intervenção no subsolo dentro deste perímetro iria interferir com o espaço da antiga necrópole e incidir sobre sepulturas e vestígios com elas relacionados. Neste sentido, aconselhámos veementemente o acompanhamento arqueológico de qualquer trabalho que se desenvolvesse nesta área e preconizasse a movimentação de terras e alteração das cotas actuais do terreno.

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