Palacete D. Maria Rosa de Faria, Praça do Príncipe Real, 2-4

No seguimento de contacto estabelecido com o EASTBANC, S.A., a ERA efectuou um estudo sobre duas pinturas murais existentes em tectos de duas salas do piso 1 do Palacete D. Maria Rosa de Faria, sito na Praça do Príncipe Real, 2-4, em Lisboa.

Refira-se que a caracterização de elementos patrimoniais deve feita com base em três vectores de análise: enquadramento histórico, técnico e o seu enquadramento actual. Quer isto dizer que um elemento patrimonial não pode ser só visto no seu enquadramento histórico inicial, nem somente na sua qualidade técnica, mas igualmente no modo como se integra no contexto.

No caso das pinturas murais alvo deste estudo, historicamente inserem-se num contexto de produção corrente, face a um gosto doméstico burguês, neste caso, já um pouco “fora do seu tempo”, em termos de linguagem estética (tardo-barroco). Tecnicamente, são pinturas de regular qualidade de execução, não tendo sido encontrados registos da sua autoria.

 

Relativamente ao contexto actual, o edifício e seu património integrado são hoje de maior importância e valor reconhecido que à época de construção e execução, dado o desaparecimento da produção artística desta época. Este prédio e artes integradas são o espelho do fim de uma época em que o espaço habitacional era pensado no seu todo, em todas as suas vertentes. Neste sentido, achámos que o seu registo e preservação seria de vital importância.

Não obstante, outros dois vectores devem ser tidos em conta em contexto de reabilitação urbana: o factor económico e o factor legislativo. Se por motivos de ajuste à legislação existente, em termos de requisitos construtivos na sua adequação a espaço habitacional, não fosse possível manter os tectos no seu actual estado, deveria ser equacionada a melhor forma de salvaguarda.

A existência dos tectos só fazia sentido, efectivamente, no contexto para o qual foram concebidos: removê-los comportaria custos de tal valor que não se justificariam, sem perjúrio da importância de que se revestem os mesmos; para serem reintroduzidos noutro contexto, exigiria todo um trabalho de contextualização e adequação dos tectos, que, mais uma vez, não parecia justificável.

A solução que nos pareceu mais adequada seria deixar os tectos tal como estavam, ocultando-os in situ. Antes desta acção seria imperetrível um registo fotográfico e gráfico pormenorizado, pois, apesar de estes ficarem no local, os trabalhos de adaptação espacial revelariam a necessidade de abrir orifícios e fazer passar elementos de fixação que, efectivamente, deixariam marcas e desfigurariam de algum modo os elementos originais.

A esta situação acresce o facto de o edifício ser antigo e necessitar de reforços estruturais e renovação ou construção de infraestruturas. Neste contexto, em certas situações, apesar do recurso a todos os esforços de preservação, a perda de alguma percentagem de material seria inevitável.

Assim, reiterou-se que a opção de manter e ocultar o tecto era aquela que mais se coadunava com as directrizes actuais de preservação do património e aquela que mais ia ao encontro da salvaguarda do nosso património cultural no tocante à destruição sistemática assistida ao longo do século XX e XXI.

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