Convento dos Inglesinhos, Lisboa

Entre os dias 12 e 30 de Janeiro de 2003, a ERA-Arqueologia levou a cabo trabalhos de escavação no Convento dos Inglesinhos, localizado na Travessa dos Inglesinhos, n.º 46, na freguesia de Santa Catarina, Lisboa. Estes enquadraram-se numa perspectiva de intervenções preventivas, no sentido de diagnosticar o potencial arqueológico na área do subsolo a afectar pelo projecto imobiliário a implementar neste local.

Foram implantadas cinco sondagens, duas no exterior e três no interior do edifício, de modo a obter uma amostragem da estratigrafia arqueológica do espaço. Os resultados da intervenção permitiram-nos identificar vários momentos construtivos relacionados com a história do convento, desde a sua fundação nos inícios do século XVII, passando pela sua reconstrução após o terramoto de 1755 (que lhe conferiu a traça actual), até às obras de remodelação no decorrer do século XX.

O acompanhamento arqueológico a realizar aquando das movimentações de terra, nomeadamente na área a afectar no interior do edifício e, no exterior, na área a afectar pela construção de três caves, seria o suficiente para minimizar eventuais impactes causados pela obra nos contextos detectados, não havendo impedimento à realização da empreitada.

 

ACOMPANHAMENTO ARQUEOLÓGICO

As ações de acompanhamento arqueológico desenvolvidas no Convento dos Inglesinhos tiveram lugar no período compreendido entre 2 de Fevereiro de 2005 e 7 de Fevereiro de 2007. Estas surgiram na sequência dos resultados observados aquando das escavações arqueológicas aqui realizadas em 2003, tendo por desígnio a detecção de novos vestígios arqueológicos e o seu registo.

Deste modo, foram acompanhadas movimentações de terras em 4 zonas distintas da área total a afectar pela empreitada: Edifício B (exterior); Pátio/Jardim (exterior); Zona Técnica (exterior) e o Edifício do Colégio (cozinha, elevadores, corredor e dispensa). Os dados resultantes desta intervenção permitiram identificar distintos momentos construtivos e de organização relacionados com a história do Convento e zona envolvente, desde a sua construção até ao século XX.

Lápide.

Os vestígios identificados no interior do edifício foram cronologicamente enquadráveis no século XVII, a data da sua fundação, nomeadamente na zona dos elevadores e na cozinha. Registaram-se também, vestígios de destruições possivelmente relacionadas com o terramoto de 1755. Para além destes vestígios, constataram-se também reconstruções que teriam sido realizadas num momento após o terramoto, conferindo ao edifício a traça actual, nomeadamente na cozinha e corredor.

Relativamente aos espaços de exterior, os vestígios identificados permitiram estabelecer diversas ocupações da zona envolvente do Convento; a construção do jardim original (século XVIII); estruturas habitacionais e estruturas abobadadas (século XIX); fornos e muros diversos (século XX). Face aos resultados expostos consideraram-se cumpridos os objectivos inicialmente propostos ao Instituto português de Arqueologia.

 

TRANSLADAÇÃO DO CRUZEIRO DE PEDRA “ALMINHA”

No dia 23 de Novembro de 2006, a ERA-Arqueologia concretizou trabalhos de transladação do cruzeiro de pedra em baixo relevo “Alminha”, que apareceu no decorrer do acompanhamento arqueológico na zona do pátio/jardim do Convento dos Inglesinhos.

Estes labores foram feitos na sequência dos relatórios preliminares e pareceres realizados pela ERA e no decurso de aprovação destes por parte das entidades oficiais. A acção levada a cabo teve como objectivos a preservação da peça e a libertação da área que, no âmbito do projecto em curso, seria alvo de escavações até à cota da Rua Nova do Loureiro.

Trabalhos de remoção.

Com esta intervenção salvaguardou-se o elemento patrimonial, prevendo-se agora a sua integração no novo espaço. O aspecto formal da construção, que desapareceu com estes trabalhos, poderia vir a ser “facilmente” reconstruído a partir dos levantamentos realizados. A nova estrutura a construir deveria ter um acabamento afagado realizado com uma argamassa à base de cal hidratada, conforme se identificou nos trabalhos de desmontagem da peça.

 

CONSERVAÇÃO E RESTAURO

Esta intervenção de conservação e restauro foi executada no âmbito da recuperação da Capela do Convento dos Inglesinhos para desenvolvimento de actividades culturais. Os trabalhos nos revestimentos parietais da Capela consistiram no seguinte: registo fotográfico, planeamento, execução e acompanhamento da intervenção de conservação e restauro.

Desde o início que se realçou o facto de toda a estrutura estar fortemente impregnada com água, sendo o seu resultado mais imediato a presença de sais (afloramento à superfície e dentro o estuque, causando o seu destacamento, bem como da pintura). Sem intervenção mais a fundo, tal como se foi propondo desde o início, não seria possível garantir que não voltassem a surgir sais ou outras patologias de origem associada à presença de água no suporte.

Os princípios éticos tidos em conta na intervenção regeram-se por uma directriz primária, a intervenção mínima, garantindo a reversibilidade das ações tomadas para as gerações vindouras. A intervenção foi previamente analisada e planeada, tendo em conta um único objectivo: garantir a integridade do bem e a durabilidade da intervenção, conceitos que nunca devem desassociar-se de qualquer ação deste tipo.

Aconselhou-se a realização de uma vigília e a adequada manutenção periódica das partes integradas, evitando deste modo danos ou perdas maiores. Na possibilidade da futura constatação do fenómeno em causa, fez-se desde logo a advertência para que se procedesse à sua aspiração pontual e cuidada, removendo os depósitos de modo preciso, e não ao seu varrimento, o qual poderia vir a arrastar os sais para outras zonas, podendo deste modo promover a sua inclusão e desenvolvimento em maior escala.

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