Palácio dos Condes de Murça, Lisboa

Entre 16 e 22 de Maio de 2007, a ERA-Arqueologia efectuou trabalhos arqueológicos na área do Palácio dos Condes de Murça, em Lisboa, no âmbito de um projecto de recuperação e remodelação do edifício e respectivo logradouro. Esta intervenção, visando o diagnóstico e avaliação do potencial científico e patrimonial dos contextos arqueológicos presentes naquele espaço, foi efectuada numa fase prévia à execução do projecto.

As sondagens/poço realizadas pareceram atestar a inexistência de uma ocupação humana distinta da actualmente existente. No pátio central, as realidades observadas nas sondagens 2, 4 e 5 corresponderam à presença no subsolo de infraestruturas contemporâneas de saneamento básico e colocação de cabos eléctricos.

Os materiais recolhidos nestas áreas – faianças, porcelanas, cerâmica comum – confirmaram esta utilização do espaço, encontrando-se fragmentos de faiança do século XVII/XVIII misturados com cerâmicas e outros materiais do século XX e XXI. No que se refere às sondagens 1 e 3, realizadas na área contígua ao Convento dos Marianos, apenas se identificaram níveis de aterro e terras da horta, onde os materiais associados (nomeadamente as faianças) apontaram para uma ocupação entre os séculos XVII e XX.

Desta forma, perante os resultados obtidos e os dados disponíveis da bibliografia e cartografia, o nosso parecer foi no sentido de se proceder ao acompanhamento arqueológico das obras a efectuar no âmbito do Projecto de recuperação e remodelação do Palácio dos Condes de Murça, não se justificando a realização de mais sondagens.

 

2.ª INTERVENÇÃO

As acções arqueológicas realizadas no âmbito da empreitada de contenção periférica do Palácio dos Condes de Murça decorreram entre 25 de Outubro de 2010 e 14 de Março de 2011, um total de 30 dias divididos por períodos de tempo intercalados por actividades não sujeitas a acompanhamento arqueológico.

Esta intervenção decorreu de uma campanha de sondagens poço de diagnóstico realizadas em 2007, cujas medidas de minimização daí decorrentes e aprovadas pelo IGESPAR se resumiam à realização de acompanhamento arqueológico por não terem sido detectadas realidades arqueológicas relevantes. No decorrer dos trabalhos, foi registada uma série de estruturas relacionadas com as realidades edificadas que existiam no terreno do palácio e que, numa fase prévia ao arranque desta empreitada, foram demolidas.

Para além destas, relacionadas com fases de ocupação anteriores às dos edifícios demolidos, foram registadas estruturas na plataforma superior na área limitada a Oeste pela capela e a Este pela parede do Anexo 1, adjacente ao palácio, no sentido perpendicular a este. É possível que se tratassem de antigas estruturas de apoio ao palácio ou à capela e que, entretanto, foram substituídas pelos anexos mais recentes, demolidos na fase prévia ao início da empreitada.

Por fim, destacou-se a presença de uma estrutura identificada junto ao muro de delimitação da propriedade, paralelo à Rua São João da Mata. Aparentemente, a vala de fundação deste muro terá afectado a construção que, por sua vez, numa fase mais recente, terá sido entaipada, por motivos que se desconhecem.

Do conjunto das estruturas aqui registadas, procedeu-se ao desmonte acompanhado das mesmas após o devido registo gráfico e fotográfico. Apenas uma foi mantida in situ, por não se verificar a necessidade da sua afectação no decorrer desta fase da empreitada. No que respeita ao conjunto artefactual recolhido, este apontou para cronologias entre os séculos XIX e XX, tendo surgido elementos cerâmicos associados ao período compreendido entre os séculos XVI e XVIII.

 

3.º INTERVENÇÃO

Esta intervenção foi realizada no âmbito do empreendimento de Reabilitação do Palácio. Os trabalhos decorreram entre os dias 25 de Julho e 10 de Agosto de 2012, perfazendo um total de 12 dias.

No decorrer dos trabalhos de remodelação de um dos pavimentos, foi posta a descoberto uma cripta funerária. Ainda que, no âmbito do actual projecto, estes contextos não estivessem sujeitos a afectação, optou-se por proceder à exumação dos indivíduos ali sepultados. Foram identificados vestígios ósseos de cerca de 49 indíviduos, todos pertencentes à família dos Condes de Murça.

A área intervencionada conheceu um longo período de utilização, cerca de 200 anos, enquanto espaço funerário, tendo sido possível identificar oito fases de ocupação, desde a sua construção até à última fase de deposições. As fases distintas referem-se, na sua maioria, a momentos de deposição de cadáveres e de afectação desses níveis para deposição de outros enterramentos, com as acumulações de ossos e camadas de cal que essas actividades implicavam aquando da reorganização do espaço e higienização do mesmo.

Para além destas realidades, refira-se que alguns momentos de afectação dos enterramentos em fases mais recentes poderiam estar relacionados com actos de pilhagem e vandalismo. Estes teriam ocorrido numa fase de abandono do palácio, numa altura em que já não se utilizaria o espaço para deposição de cadáveres.

Face aos elementos recolhidos, considerou-se que todas as estimativas do número mínimo de indivíduos se encontravam condicionadas pelos mencionados níveis de perturbações ao longo do tempo. Umas inumações apresentavam elementos melhor preservados, enquanto que noutras os materiais revelaram-se escassos e fragmentados.

 

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